O Poder da Palavra:

Uma resposta a Michelson Borges

 

[De autoria da estudante de filosofia Vanedja Cândido, o texto a seguir é uma carta-resposta  ao artigo "O poder da música"enviada por e-mail a Michelson Borges - autor do artigo - em 16.12.2012, porém não treplicada pelo jornalista].

 

 

Olá, Michelson!

 

Eu me chamo Vanedja (esquisito, eu sei. Minha mãe era criativa). Se não for pedir demais, gostaria de sua atenção para alguns comentários sobre seu texto O poder da música. Sei que é antigo, mas ele continua sendo acessado, compartilhado e citado. Logo, julgo ser ainda pertinente comentá-lo.

 

Com meus meros 20 e poucos anos, tendo me tornado adventista apenas na adolescência, estou ciente de não possuir a maturidade mental e espiritual que você possui. Por isso, estou em oração enquanto escrevo este e-mail. Espero que minhas muitas, e talvez insapientes, palavras não lhe aborreçam. Tive de escrevê-las por crer no tratar a outros como eu gostaria de ser tratada, e não ficaria feliz se meus irmãos se omitissem diante de coisas para as quais eu talvez devesse atentar. Por favor, perdoe-me desde já pela extensão, mas seu artigo é um pouco volumoso e pretendo comentá-lo criteriosamente, sendo o mais justa que me for possível. Vamos aos pontos.

 

 

1. Citações de letras de música e uma preocupação inexplicada

Você cita uma letra da banda Paralamas do Sucesso e outra da banda Capital Inicial, aparentemente porque tais músicas possuem características que levam à "sensação de depressão, inconformismo[1] e desesperança".

 

Contudo, a dos Paralamas, no próprio trecho que você citou, afirma justamente que "há uma luz no túnel dos desesperadoshá um cais de porto pra quem precisa chegar". Além de trechos que abordam a solidariedade e o altruísmo a despeito das dificuldades ("uma noite longa, pr'uma vida curta, mas já não me importa, basta poder te ajudar") e a superação dos obstáculos ("são tantas marcas que já fazem parte do que sou agora, mas ainda sei me virar"). É uma música que trata de consolo a alguém que chora, a um "desesperado" na escuridão precisando de uma luz no fim do túnel, bem como uma promessa de estar lá para ajudá-lo, não importa o que aconteça.

 

A de Capital Inicial, no próprio trecho que você citou, fala de alguém que quer estar com outro, em qualquer circunstância (ainda que "tudo [dê] errado"), em qualquer lugar ("dançando à beira do precipício"). Além do retrato honesto que faz do mundo destes tempos ("a noite me leva pra rua, promete o que eu quero e toma o que eu tenho"). É uma música que trata de companheirismo incondicional, algo especialmente importante nestes dias de relacionamentos descartáveis.

 

Logo, apesar de eu não ser fã de nenhuma dessas bandas (aliás, amigo, lamento seu questionável gosto juvenil rs), não sei como as músicas acima poderiam gerar aquilo que lhe geravam (se gerassem depressão e desespero por serem difíceis de aturar, eu entenderia).

 

Pelo visto, você apenas "pescou" palavras (aliadas a uma melodia introspectiva) como "escuro", "ninguém te ouve", "noite", "chorar", "desesperados", "afogados", "amargo", "sozinho", "errado", "beira do precipício"... Desassociadas de seu contexto, passam mesmo a ideia de "depressão", "desesperança". Entretanto, se vamos realmente utilizar esse critério, o AT deve ser o primeiro a ser abandonado, com seu depressivo Eclesiastes, suas histórias de perversão sexual e sua violência explícita. Claro que o AT o faz dentro de um contexto e propósito, mas, como demonstrado, essas músicas citadas também.

 

Talvez não se possa dizer isso de todas as músicas dessas bandas, mas aí ajudaria se formadores de opinião como você, Michelson, erguerem-se no seio da igreja e instruírem o povo a selecionar tudo segundo critérios mais bíblicos, objetivos e racionais, ao invés do simplista: "É rock, é ruim".

 

Não consegui observar qualquer indício bíblico ou lógico em seu artigo que atestasse a nocividade da mensagem das músicas citadas. Parece que só o fato de ser rock as desabilita a priori. Assim, elimina-se a autoridade bíblica (1Pd 4.11; At 17.21) e a razão (Rm 12.1), que deveriam ser nosso guia. No "é rock, é ruim", não preciso interrogar a Bíblia nem raciocinar acerca da mensagem transmitida nas músicas.

 

Aliás, essa preocupação toda com o rock se mostra irracional também porque ele há muito nem é o estilo predominante mundo à fora, tampouco na igreja. No Brasil[2], tem predominado o sertanejo (e já houve a fase áurea do axé, do pagode...). Por que, então, não se vê ataque tão constante e veemente a esse estilo, dono de grande parcela de hits dos mais moralmente deploráveis?

 

Veja, por exemplo, uma famosa música do cantor Leonardo: "É gera, gera, geração Coca-cola molha a calça toda hora de tanto se esfregar". No contexto da música, isso não é cantado de modo meramente descritivo, mas como exaltação à vulgaridade e promiscuidade. Veja ainda outra do mesmo cantor: "Eu deixaria tudo se você ficasse, meus sonhos, meu passado, minha religião", aparentemente ensinando que é não somente lícito, mas também romântico e belo abandonar até mesmo princípios religiosos em prol de um grande "amor". Essas foram apenas as que fui me lembrando de cabeça. Se insistisse, sem dúvida sairiam outras tantas ainda mais reprováveis, mas quero poupar a minha e a sua mente de tal violência.

 

Isso sem falar da coisificação ou idolatria à mulher, da glamurização da bebedeira, da consagração do ensino espúrio do "ouvir a voz do coração" (cf. Jr 17.9), entre outras falsidades transmitidas nas letras, danças e vestuário típicos de inúmeros "artistas" de música romântica, forró, funk, pagode, axé, sertanejo, technobrega... Nenhuma das bandas por você mencionada sequer se aproxima palidamente desse nível de degradação moral. No entanto, não vemos contra esses estilos "cruzadas" evangélicas sequer próximas à ojeriza que vemos ao rock. Estranha incoerência!

 

Todo esse gasto de munição com o que nem é o alvo principal dos jovens e do mundo como um todo hoje em dia, parece encontrar guarida apenas na paranoia surgida em décadas passadas em relação ao rock, ocasião em que ele emergia vertiginosamente. Assim, presos à fase áurea já obsoleta de um estilo, os cristãos continuam fazendo de um tópico quase arcaico motivo de constante pauta, sem qualquer explicação racional para isso, apenas ecoando irrefletidamente o que sempre se disse. Pode até haver outra explicação, mas não consigo encontrar nada que elucide esse frisson em se falar tão majoritariamente contra um ritmo que há tempos não é majoritário; enquanto há por aí diversas músicas, dos mais variados estilos, transmitindo mensagens totalmente opostas ao cristianismo.

 

Parece que as comunidades cristãs pararam no tempo. Não por serem contra estilo A ou B, mas por estarem alheias a toda uma conjuntura atual. Seria muito útil uma atualização desse discurso.

 

 

2. "Porque mudei de estação" – o perigo das experiências pessoais

Acho curiosos relatos como o seu, Michelson, nos quais parece que de repente (ou paulatinamente, depende do relato), o Espírito Santo mansamente constrangeu a pessoa a abandonar músicas X. Tudo muito emocional e subjetivo – o que é mais preocupante ainda quando se quer passar uma postura contrária a emocionalismos na adoração.

 

O que poderia chegar mais próximo da objetividade nessas experiências pessoais, ocorre naqueles "reavivamentos" trazidos "pela dor", nos quais, por meio de uma possessão, o Diabo faz as vezes de consultor espiritual da igreja, listando as coisas em que ela tem pecado.

 

Parece que quando a experiência pessoal entra em cena em temas como esse, pouquíssimo de Bíblia é mostrado (quando é!) e, ainda assim, em textos amputados de seu contexto, tornando-se tão vagos que poderiam ser usados tanto contra escutar certos ritmos, quanto contra ver TV, cortar o cabelo, usar bermuda e o que mais a imaginação mandar (há, literalmente, quem faça exatamente isso). Infelizmente, o emocionalismo em detrimento do estudo racional das Escrituras ainda impera nesse assunto – e o pior é quando se apela a esse emocionalismo travestindo-o com uma roupagem de racionalidade.

 

Eu mesma acreditava nesses relatos. Tinha até os meus próprios para contar. De fato, parece-nos algo realmente divino, já que aparentemente Deus vai nos dando a luz quanto a abandonar tais coisas. A questão é que às vezes é difícil não se deparar com tal luz "divina" quando se vive numa cultura eclesial em que o retrato que nos é pintado ainda é, predominantemente, aquele em que os de fato consagrados são os que buscam eliminar de seus ouvidos o que, segundo dizem por aí, não é do "gosto de Deus".

 

Tal retrato é por vezes ratificado pela própria parcela da cristandade que ouve os mais variados ritmos – gente que, grande parte das vezes, não possui qualquer argumento para fazê-lo senão o "Eu gosto", "Isso é besteira", "É caretice", "Nunca me fez mal", "Ouço mesmo, e daí?". O testemunho deles foi grandemente responsável por me fazer abrigar durante muito tempo ideias que hoje entendo serem emocionais e antibíblicas. Tais cristãos nominais são convictos adeptos da chamada "Teologia do Aff", cujo principal argumento para discordar do que quer que se levante contra as ideias deles é "Aff" – e Bíblia passa longe. Mesmo que a Bíblia reprovasse terminantemente seu comportamento, não importaria, pois, em sua arrogância, são alheios a ela.

 

Forma-se aí, de ambos os lados, um sutil e perigosa teologia da experiência: o que supostamente for verdade em minha experiência, será verdade biblicamente. Analisemos mais de perto algumas proposições dos dois polos.

 

                (1) Eu me sinto bem ouvindo rock;

                (2) Logo, vou ouvi-lo.

 

Esse argumento se baseia em mera experiência pessoal. O simples fato de gostarmos de algo não é um argumento legítimo para o cristão genuíno, pois este sabe, à luz da Bíblia, que possuímos natureza pecaminosa, ou seja, naturalmente temos prazer naquilo que nos afasta de Deus (Jr 17.9; Rm 7.19). Tal hedonismo não possui base nas Escrituras, logo, deve ser abandonado pelo crente.

 

O argumento a seguir é uma paráfrase de um dos que você usou em seu artigo[3].

 

                (1) Tal música me faz sentir como em minha época pré-conversão;

                (2) Logo, é prudente que os seguidores de Cristo procurem evitá-la.

 

Por favor, analise bem esse seu argumento. O que há de objetivo, racional, bíblico nele? Ele é pura subjetividade. É falso dizer que porque algo não me faz sentir bem, então isso deve de alguma forma aplicar-se a todos. A própria Bíblia fala de coisas que podem desvirtuar e trazer maus sentimentos a uns, e a outros não causar dano algum (1Co 10.25-29).

 

Logo, assim como o liberalista comportamental usa como critério o argumento do "sinto-me bem", o tradicionalista usa o argumento do "sinto-me mal" – ambos carecem igualmente de Bíblia e fazem de seus sentimentos o parâmetro. O segundo, porém, em certo sentido (não em todos), encontra-se em pior situação que o primeiro, pois não é incomum que este seja rápido em acusar aquele de emocionalista, não reparando na trave em seu próprio olho (Mt 7.3).

 

Parece que a emoção só é má se me levar a ouvir músicas estigmatizadas no meio cristão; mas se me levar a deixar de ouvi-las, então ela é boa e ganha o título de razão, Espírito Santo, etc. Sabemos, porém, que ela é sempre má se não motivada pela razão (basta ver algumas das músicas que você citou e fica evidenciado que o critério da razão se esvaiu em seu artigo). Muitos parecem pensar como se o emocionalismo fosse monopólio do liberalismo comportamental e não fosse possível encontrar emocionalismo na posição comportamentalmente tradicional – o que, por vezes, gera em muitos de tal grupo uma falsa segurança.

 

Repare, contudo, que não há em seu artigo qualquer texto bíblico que traga o mínimo alerta acerca de estilos musicais. Simplesmente porque tais textos bíblicos inexistem. E, se inexistem, fica a pergunta: temos nós nos considerado mais judiciosos do que Deus, achando-nos com o direito de traçar sequer o mais tênue parâmetro para os crentes, em assuntos nos quais Ele mesmo não se preocupou em fazê-lo?

 

Veja, Michelson, o povo de Deus viveu séculos no seio do paganismo (Egito, Assíria, Babilônia, Grécia, Medo-Pérsia e Roma), afora o tempo que viveu por ele rodeado. Sabemos que tais povos possuíam muita variedade musical, contudo, Deus nunca se preocupou em deixar nas Escrituras nem uma única palavra contra tal suposto terrível perigo. E olha que Deus fez questão de ser direto e cristalino quanto a vários aspectos da adoração (vide as minuciosas instruções do livro de Levítico quanto ao tabernáculo e à execução dos rituais ali oficiados).

 

Deus se preocupou em gastar pergaminho e tinta para falar contra o uso de tecidos diferentes na mesma roupa (Dt 22.11), mas não teve preocupação alguma em gastar nem uma única linha sobre o tema supostamente tão importante do grande perigo por traz de certos ritmos. Só sei que por algum bom motivo Ele viu que seria mais importante deixar escrito que não se cozinhasse o cabrito no leite da mãe (Êx 23.19) do que falar contra ritmos. Creio que a Palavra de Deus é perfeita, que Ele não se esqueceu de inserir nela nada que fosse importante para a nossa caminhada ao céu.

 

Creio que "a Palavra de Deus é suficiente para iluminar o espírito mais obscurecido" (TS, v. 2, p. 279), que ELA é "o termo de toda polêmica e o fundamento de toda fé" (PJ, p. 40), que ELA "é a norma para provar as alegações de todos os que professam santificação" (FO, p. 51), "pois ela [é] a norma pela qual todo ensino e experiência devem ser aferidos" (GC, p. 10), por isso, devemos ter "evidência bíblica para todo ponto que defendermos" (EGW a GIB 05/04/1987). Creio que "Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas"[4] (GC, p. 594). Portanto, Ele requer que "provem todos a própria atitude por meio das Escrituras e fundamentem pela Palavra de Deus revelada todo ponto que vindicam ser verdade" (Ev. p. 256. Negritos acrescentados)[5]. Assim, há sérias dificuldades em aceitar determinações baseadas numa teologia meramente inferencial (para dizer o mínimo) como a que se manifesta em seu artigo.

 

 

3. Satanás "regente do coral angélico"

Confesso que já repeti isso feito papagaio, mas há alguns anos me dei conta de que nunca encontrei qualquer referência bíblica para isso.

 

O que sei é que há uma passagem de EGW mal interpretada. "Satanás tinha dirigido o coro celestial. Tinha ferido a primeira nota; então todo o exército angelical havia-se unido a ele, e gloriosos acordes musicais haviam ressoado através do Céu em honra a Deus e Seu amado Filho. Mas agora, em vez de suaves notas musicais, palavras de discórdia e ira caíam aos ouvidos do grande líder rebelde" (HR, p.25).

 

 

EGW faz apenas uma metáfora contrastando o estado anterior de submissão de Lúcifer ao Pai com seu estado posterior de ira e rebeldia. Ele tinha sido o primeiro a adorar a Deus, pois fora o primeiro ser criado (HR, p. 13), agora orquestrava notas de discórdia. EGW usa essa metáfora musical em várias ocasiões, sem que nenhum significado literalmente musical seja pretendido. Por exemplo, falando dos cristãos ela utiliza exatamente a mesma linguagem do texto do livro História da Redenção, dizendo que "se amam a Deus acima de tudo, amar-se-ão mutuamente no Senhor, tratando-se com cortesia,ferindo as mesmas notas" (LA, p. 95), o que significa que devem ter o mesmo propósito, viver ao máximo sem contendas, não que devem ser musicalmente afinados (ainda que nossos ouvidos agradecessem se o fossem).

 

 

4. Música suave e harmoniosa

Você cita uma passagem de EGW e em seguida afirma com itálicos: "Note que a música que ela elogia era suave harmoniosa". Assim, você parece sugerir, como já vi muitos fazerem, que a única música recomendada por EGW é aquela suave e harmoniosa. Se for, o que fazer com hinos marciais como "Cristo nos Conclama", "Vamos Batalhar", "Grande Comandante", "Lutai por Cristo", "Ó Cristãos Avante", "O Pendão Real", "Cristãos, Despertai" e tantos outros que conclamam os cristãos à batalha? Faz sentido que músicas que convidem para uma árdua peleja tenham de ser suaves? O que dizer também da volta de Cristo que se dará sob "forte clangor de trombeta" (Mt 24.31)?[6] Não faria mais sentido entender as palavras desse texto de EGW como descritivas, e não prescritivas? Ela simplesmente descreveu a música que ouviu no momento e sabemos que "as narrativas históricas normalmente não proclamam um mandamento bíblico direto nem ensinam uma doutrina bíblica"[7].

 

Não é porque Deus certa vez esteve na brisa suave, e não no vento, nem no terremoto, nem no fogo (1Re 19.11-12), que Ele não possa se manifestar dessas outras formas, caso em Sua infinita sabedoria e poder, queira fazê-lo (Êx 3.2; 13.21-22; 19.18-19; 20.18, Dt 4.24; Is 29.6; Hb 12.29, etc). Inferir que porque EGW descreveu daquela forma uma música, toda música tem de limitar-se àquela descrição pontual, é um erro elementar de interpretação, a velha falha hermenêutica de extrair normas de uma mera narrativa. "Devemos extrair padrões de fé e comportamento [...] sempre que ele for dado, e não das práticas e experiências que descreve".[8]

 

 

5. "Própria para salão de baile"

Esse texto de EGW é invariavelmente citado nessas ocasiões, mas há problemas em fazê-lo.

 

No tempo dela, mesmo a música clássica, que temos hoje como erudita ou sacra, era "própria para salão de baile". Na pior das hipóteses, a música "própria para salão de baile" era o mesmo estilo musical que vemos nos aclamados antigos hinos do oeste americano, presentes em nosso hinário[9]. Assim, ela teria condenado um tipo de música que ela mesma elogiou (como você bem expôs quando citou o episódio do navio). Portanto, ela não poderia ter criticado aquele tipo de música apenas pelo fato de ser "própria para salão de baile", sob pena de incoerência. O que ela criticou, então?

 

No mesmo parágrafo, logo após o ponto em que você encerrou a citação, EGW continua:

 

A música tem ocupado as horas que deviam ser devotadas à oração. A música é oídolo adorado por muitos professos cristãos observadores do sábado [...] Quando mal empregada, leva os não consagrados ao orgulho, à vaidade, à tolice. Quando se lhe permite tomar o lugar da devoção e da prece, é uma terrível maldição. Jovens reúnem-se para cantar e, se bem que cristãos professos, desonram frequentemente a Deus e sua fé por frívolasconversas e a escolha que fazem da música. A música sacra não está em harmonia com seus gostos (Itálicos acrescentados).

 

Veja que ela falou aquelas palavras num contexto em que se reportou à "frivolidade", "horas que deviam ser devotadas à oração" sendo perdidas em idolatria, "orgulho", "vaidade", "tolice".

 

Um tema recorrente em EGW é o da frivolidade. Muitos jovens daquela época (não tão diferentes de muitos dos de hoje) ocupavam a mente apenas com assuntos tolos. Gastavam o tempo, que deveria ser dedicado à glória de Deus, na satisfação de seus prazeres triviais. No mesmo livro da citação que você fez, veja alguns exemplos de como ela combatia isso: "Conversam sobre muitos assuntos, mas do precioso plano da redenção não fazem tema de conversação. Como cristãos praticantes, mudemos esta ordem de coisas, e anunciemos 'as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para Sua maravilhosa luz'" (p. 200).

 

são incapazes de conversar, a não ser acerca dos assuntos mais comuns. As mais nobres faculdades, as que se adaptam às mais altas realizações, foram rebaixadas à contemplação de assuntos triviais, ou ainda piores, até que a pessoa se satisfaz com esses temas, mal podendo alcançar qualquer coisa mais elevadaOs pensamentos religiosos e a conversação sobre os mesmos, têm-se tornado desagradáveis (p. 279).

 

Na página 200, ela não condenou o conversar "sobre muitos assuntos", mas o fato de que muitos, "do precioso plano da redenção não fazem tema de conversação". Na página 279, ela não condenou o simples conversar "acerca de assuntos comuns"/"assuntos triviais", mas a falta de alegria pelos "pensamentos religiosos", o ser incapaz de "alcançar qualquer coisa mais elevada".

 

Ela também diz que certa qualidade de conversação "é da Terra, terrena, e não chega sequer ao nível da conversa das mais cultas classes mundanas. Quando Cristo e o Céu forem objeto de reflexão, a conversa o indicará" (CPPE, p. 443). Bem como afirma que "somos proibidos por Deus de empenhar-nos em conversas frívolas e insensatas, em gracejos e piadas, ou proferir palavras ociosas" (FEC, p. 458). Se formos, sem dois pesos e duas medidas, interpretar esse texto da mesma forma que é interpretada a passagem que menciona a música "própria para salão de baile", deveríamos entender que não podemos fazer "gracejos e piadas", que são eles um mal em si mesmos. Coisa que tornaria impróprias até mesmo algumas palavras da própria EGW[10] e até mesmo algumas postagens de seu blog, Michelson.

 

O mesmo que EGW fez nessas passagens, faz no contexto da passagem que você citou. Veja que no próprio trecho que você extraiu, ela acusa a música ali executada de ser "uma frívola cantiga". Se o problema da música for apenas ser "uma frívola cantiga", até mesmo "Atirei o pau no gato" deveria ser banida das brincadeiras de nossas crianças, visto que a canção não possui qualquer utilidade elevada e ainda trata de violência contra animais.

 

Da mesma forma, EGW não poderia estar simplesmente condenando a música "própria para salão de baile", mas sim o não ir além disso. Ela estava criticando o fato de isso ser tão costumeiro – no mesmo parágrafo, ela mesma chama a atenção para o grande número de vezes que isso ocorria[11] – a ponto de ser a regra, e a conversação sobre temas mais elevados, a rara exceção. Os jovens ficavam totalmente absorvidos por aquilo, enquanto que "o lugar da devoção e da prece", bem como a música especificamente voltada para adoração, não estavam "em harmonia com seus gostos".

 

Eu mesma fico triste com o tipo de conversação que pessoas da minha idade (e até mais velhas) costumam ter. Gosto muito de rir, de contar piada e de falar sobre coisas comuns. O problema é que é raríssimo que a conversa entre adventistas do 7º dia vá a algo mais elevado que isso. Não sou nenhuma santarrona, mas por vezes me vejo obrigada a me afastar de algumas rodinhas, porque NUNCA surge alguma conversa profunda, algum tema de relevância eterna.[12] Por vezes, quando se tenta introduzir algum tema edificante ao diálogo, alguns até olham torto. Se eu, esse poço de miséria e pecaminosidade, consigo me sentir muito mal e me afasto ante a persistente falta de profundidade no que conversamos e cantamos, imagine o quanto os santos e perfeitos anjos devem, tal como EGW descreveu, lamentar e se afastar!

 

 

6. Citações de pesquisas acadêmicas

Dr. Hélio Pothin – gostaria de saber a referência de tal citação dele. Está disponível em alguma plataforma ou revista indexada? Não encontrei referências a isso em lugar algum. Independentemente da qualificação de quem a pronunciou, é necessário averiguar os dados que levaram àquela conclusão, do contrário não passa da opinião de quem a proferiu, e sua utilização acaba beirando a falácia da autoridade. Cientistas também especulam e também sentem necessidade de expressar seus pontos de vista particulares (você bem sabe disso, afinal, lida com especulações de cientistas o tempo todo).

 

"Música + volante" – também gostaria de obter a referência dessa pesquisa. Aliás, Michelson, noto a falta de referências em vários de seus artigos que citam pesquisas acadêmicas. Por quê? Amigável e francamente, indago se não seria algo a ser melhorado. Incluir referências, além de conferir fidedignidade às informações, seria uma forma de instrução prática aos leitores acerca da importância de checar as fontes das informações que recebem, e não engolirem tudo o que lhes é dito (cf. At 17.21).

 

Pesquisa sobre "música e álcool" – gostaria também da referência dessa pesquisa. Observo ainda que, em pesquisas desse tipo, vale precaução adicional para que não se caia na falácia da falsa causa. Por exemplo, você deve saber que foi comprovado que quando se aumenta o consumo de sorvete, aumenta-se também o número de afogamentos. Um dado bizarro, porém, real. Acontece que nem sempre quando dois fatores são encontrados juntos significa que um cause o outro. Nesse caso, mais pessoas se afogam quando o consumo de sorvete aumenta porque o sorvete é mais consumido em época de calor: justamente a época em que mais pessoas passam mais tempo envolvidas em atividades aquáticas, o que, obviamente, aumenta o número de afogamentos. Logo, embora os fatores "sorvete" e "afogamentos" ocorram em companhia um do outro, não possuem qualquer relação. No caso em lide, é preciso muito cuidado para que todas as variáveis sejam isoladas, sendo, portanto, necessária uma análise dos métodos da pesquisa a fim de se averiguar se é válida a conclusão de que é mesmo a música agitada que faz aumentar o consumo de álcool.

 

Sem falar que há vários tipos de pesquisa. Há uma, por exemplo, que relaciona o Heavy Metal a QI alto[13]. É uma faca de dois gumes. Há pesquisas para todos os gostos.

 

 

7. Elvis e Beatles

Se Elvis era mesmo leitor de Helena Blavatski, isso tem realmente relevância ao assunto? Porque, considere o seguinte:

 

I – Sou leitora de Richard Dawkins. Agora imagine que, por isso, daqui a 50 anos alguém insinue que se deva ter receio em relação ao meu trabalho. Ser leitor de algo não significa ser concordante com esse algo. Se Elvis era concordante, não ficou evidenciado.

 

II – Ainda que fosse concordante, se tal critério é mesmo pertinente para atestar a segurança do que consumimos, deveríamos procurar escavar cada gosto de cada pessoa de quem vamos consumir algo. E, obviamente, só teríamos tempo para isso na vida. Por esse e outros motivos, aposto no bem mais acessível e objetivo critério: quais princípios essa música em particular realmente exalta?

 

III – Nem música clássica passaria nesse critério por você usado. Muitos de seus compositores eram imortalistas, mariólatras, boêmios e pervertidos inveterados, tais como Schubert, Mozart e Beethoven, mas apreciamos várias de suas obras, inclusive em nosso hinário.

 

Sobre Beatles, você diz: "Eles afirmam: 'Hoje faz 20 anos que o Sargento Pimenta ensinou a banda a tocar.' E quem morreu 20 anos antes disso, em 1947? Aleister Crowley (1875-1947), o pai do satanismo moderno". Contudo, muita gente morreu 20 anos antes desse álbum. Qual motivo especial levaria à conclusão de que justamente Crowley seria o homenageado?

 

Ademais, a letra diz: "Hoje faz 20 anos que o Sargento Pimenta ensinou a banda a tocar", mas 20 anos antes disso Crowley havia simplesmente morrido. Fosse o ano de seu nascimento ou da publicação da sua mais relevante obra, até poderia fazer algum sentido!

 

Ainda que seja ele mesmo a quem a música se refere, fica a pergunta: como isso poderia influenciar os ouvintes?

 

Não sou adepta do relativismo, jamais diria que tudo depende da maneira que cada indivíduo interpreta. Entretanto, a simples menção a algo não é suficiente para exercer influência boa ou má. No caso em questão, mesmo que fosse uma real alusão a Crowley é necessário observar quais valores o autor está realmente transmitindo em suas palavras, se é possível ao interlocutor assimilar aqueles valores simplesmente ouvindo a música.

 

Assim como é diferente ser chamada de "neguinha" pelo marido, de ser chamada da mesma palavra por um membro da Klu Klux Klan, uma simples menção possui significado diferente dependendo do contexto. Ela é diferente de um ensinamento, pois a mera presença do significante não é suficiente. É preciso analisar o significado do que está ali. (Você, como jornalista, deve entender de semiótica melhor do que eu). Indago, então, onde nesse disco dos Beatles figuram de fato ensinos satanistas ou correlatos?

 

Por exemplo, dizem que as iniciais da música dos Beatles Lucy in the Sky with Dimonds formam, propositalmente, a sigla da droga LSD. Ainda que seja mesmo uma alusão proposital, como isso influenciaria quem houve? Veja que há uma compilação dos escritos de EGW chamada Fundamentos da Educação Cristã, cuja sigla é FEC. Digamos que se descubra que tal título foi sugerido por um espírita sulista infiltrado, para ser uma alusão proposital à Federação Espírita Catarinense. Que diferença faria na vida dos leitores da obra? Mesmo que o autor tenha má intenção, se ele não coloca uma mensagem cognoscível, ela não pode causar qualquer efeito.[14] Se a intenção dos Beatles era mesmo divulgar Crowley por meio daquela música, então eles não foram competentes, pois "It was twenty years ago today / Sgt. Pepper taught the band to play" não transmite nenhum ensino dele.

 

Pode ser que pessoas conheçam Crowley por intermédio dos Beatles, mas porque ele está dentre as dezenas de personalidades que aparecem na capa do álbum. Nunca foi segredo que eles o admiravam, mas daí a dizer que transmitiram seus ensinos por meio das músicas deles é outra história. Na verdade, não duvidaria se mais pessoas conhecessem Crowley pelo tanto que os crentes falam nele em palestras e artigos como o seu, Michelson, do que pelos Beatles (eu sou um exemplo disso).

 

Agora, digamos que tanto Elvis quanto Beatles foram mesmo influenciados por tais coisas e foram competentes em transmiti-las em suas letras[15]. Não seria o caso de se ensinar às pessoas os princípios bíblicos para que, a partir deles, possam distinguir a verdade do erro?

 

Contudo, reconheço que seja um caminho mais fácil fazer um index de supostos itens ameaçadores à fé e dizer às pessoas que mantenham distância deles, ao invés de gastar tempo dando-lhes condições para que raciocinem por si mesmas com base na Palavra, tornando-as aptas "a desenvolver aquela sabedoria prática a que chamamos de bom senso" (Educação, p. 220)[16].

 

Será que um jovem cristão dotado de raciocínio não deve seguir nenhum ensino de sua mãe porque ela é leitora de Paulo Coelho? Será que ele não deve permitir que ela cante canções de ninar de autoria dela para os filhos dele pelo fato de ela admirar Paulo Coelho? Será que não seria mais lógico e eficaz ensiná-lo princípios bíblicos e, então, de posse deles, que esse jovem saiba filtrar o que ouve? Mesmo porque, bons ensinos podem vir de leitores de Paulo Coelho, bem como maus ensinos podem vir de leitores de Ellen White (e olha que, nesse caso, acontece com muita frequência). Então, é bem mais seguro ministrar ao jovem os princípios para reconhecer um bom ensino, os princípios do Evangelho, do que ensinar-lhe que pessoa X teve influência da pessoa Y e que pessoa Y tinha pacto com o Capeta.

 

Você cita Elvis e Beatles, mas, e se houver coisas ruins nas obras de Wagner (o antissemita e queridinho de Hitler), nas cantigas de roda...? Ou será que tudo o que não for rock e ritmos "dançantes" transmite bons valores?[17] Esse é o problema com listas de artistas e estilos perigosos: combate-se (às vezes, supostos) maus frutos, enquanto há toda uma raiz profunda, extensa e calibrosa bem embaixo do nosso nariz. Em vez de atacarmos a raiz do problema, dedicamo-nos a cortar os galhos de uma árvore que mais parece a Hidra de Lerna, multiplicando seus ramos a cada vez que cortamos um. Quando o crente é ensinado a reconhecer princípios, fica mais difícil para o mal se camuflar diante dele, pois cauteriza-se a raiz da hidra; já quando ensinado a reconhecer meros itens proibidos de uma lista, o mal se camufla de modo fácil ao simplesmente aparecer sob a forma de algum item novo.

 

Sem falar que tudo isso se baseia em falácia ad hominem, pois conclui que o que tais artistas dizem em suas músicas não serve com base na vida pessoal deles, e não no escrutínio da mensagem. O ad hominem é uma análise intelectualmente preguiçosa, pois exige bem menos raciocínio analisar uma pessoa do que uma mensagem. É preguiçosa, porém, a longo prazo, mais trabalhosa, pois uma pessoa munida de princípios, que foi ensinada a ser pensante, não precisará do discurso do "pode/não-pode"; ela terá capacidade para analisar uma mensagem e reter o que for bom. Agora, enquanto continuarmos instruindo as pessoas com base nesse tipo de argumento, creio que a realidade de uma igreja mais pensante e movida pela firme convicção que só princípios bíblicos podem dar, estará cada vez mais distante.

 

É claro que se formos analisar a mensagem propriamente dita, muita música rock não passará no crivo, mas creio que esse deva ser o foco: análise da mensagem. Sempre análise da mensagem. Colocar o juízo pra funcionar, e não simplesmente descartar algo de maneira mecânica porque está fora dos moldes que tiraram sabe-se lá de onde.

 

E veja que discursos como o seu despertam justamente o interesse de muitos sobre o que você critica. Eu mesma, após ler seu texto, fui atrás do álbum dos Beatles (do qual só conhecia bem umas duas músicas) e o ouvi muito desde então; fui pesquisar sobre Crowley, a fim de averiguar o que você disse (tenho esse costume chato de averiguar as coisas). Imagine que benção se seu texto fosse embasado em princípios bíblicos? Ao invés de ter perdido tempo indo atrás de satanismo, eu teria ido à Bíblia para averiguar a veracidade do seu texto.

 

 

8. "O diabo é o pai do rock"

Não entendo porque essa frase é tão arvorada como uma verdade autoevidente quando crentes falam de música. A única coisa que a Bíblia diz que o diabo é pai é da mentira (Jo 8.44). Se Raul Seixas tinha mesmo pacto com o diabo, ele é filho do diabo, portanto, tão mentiroso quanto seu pai. É estranho conferir todo esse status de verdade à frase de um mentiroso. Não estou dizendo que ele não poderia ter razão nesse ponto, apenas questiono a confiança incondicional na frase de alguém tão indigno de confiança.

 

Ainda que essa frase seja verdadeira, ela faria do Diabo apenas o pai de um estilo que, como já mostrado, nem é tão ouvido assim.

 

 

9. Origem do rock

Inúmeras coisas que você e eu utilizamos possuem, para usar suas palavras, "origem 'nebulosa'":

 

        • Hora de 60 minutos;[18]
        • Sinal de positivo com o polegar;[19]
        • Fim do ano em dezembro;[20]
        • Oração com a mão espalmada[21]
        • Comemoração do nascimento de Jesus em 25 de Dezembro, árvore de natal, etc.[22]
        • Flautas[23]

 

O apóstolo Paulo, tratando da questão de carnes de origem pagã, deixa-nos o princípio de que pouco importa a origem de algo, pois “o ídolo, de si mesmo, não é nada no mundo, e (...) não há senão um só Deus” (1Co 8.4, 8).

 

São vários os exemplos de despreocupada utilização bíblica de elementos de "origem nebulosa".

 

        • Nomes pagãos de Daniel e seus amigos. O próprio Daniel chamou a si mesmo e a seus amigos por seus nomes pagãos, sem o menor constrangimento (Dn 2.26, 49; 3.12-14, 16, 19, 20, 22, 23, 26, 28-30; 4.8,19; 10.1);
        • Parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-31). O próprio Mestre utilizou uma parábola com pano de fundo de "origem [mais do que] nebulosa", uma origem conhecidamente pagã;
        • Paulo aos atenienses (At 17.23).

 

Sabe, Michelson, essa história de ficar se preocupando assim com a origem das coisas, como se isso tivesse alguma influência na consagração de alguém, parece mais coisa de crente que tem medo de macumba. O equívoco do critério "origem" a fim de se argumentar acerca da validade de algo é tão conhecido e antigo que possui um nome técnico na Lógica: falácia genética.

 

 

10. "Valores representados pela cultura do rock"

Você cita o texto da Dra. Lilianne Doukhan o qual diz que “muitos dos valores representados pela cultura do rock estão em flagrante contradição com os valores da adoração”. Isso é óbvio! O próprio Rodolfo Abrantes, ex-vocalista da banda de rock Raimundos, disse no programa Altas Horas, após sua conversão, que "a atitude rock'n roll é altamente destrutiva" (ênfase do autor) – disse isso apesar de continuar cantando rock (cristão).

 

Poderíamos, legitimamente, reescrever a frase da Dra. Doukhan de várias formas. "Muitos dos valores representados pela cultura midiática estão em flagrante contradição com os valores da adoração", "muitos dos valores representados pela cultura publicitária estão em flagrante contradição com os valores da adoração", "muitos dos valores representados pela cultura acadêmica estão em flagrante contradição com os valores da adoração", etc. Por isso devemos deixar de consumir/construir qualquer coisa midiática, publicitária ou acadêmica?

 

Na verdade, o mundo inteiro está "em flagrante contradição com os valores da adoração", pois "o mundo jaz no maligno" (1Jo 5.19, tb Rm 12.2). Se fôssemos, sem dois pesos e duas medidas, usar essa frase da Dra. Doukhan, teríamos "de sair do mundo" (1Co 5.10), enquanto que a oração de Jesus foi: "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal" (Jo 17.15).

 

O que vemos parece ser uma tentativa forçada e impossível de fazer o contrário, de nos tirar do mundo. Acontece que, quando se tenta isso, não nos livram do mal, visto que, ao invés de nos ensinarem princípios bíblicos, dão-nos uma lista do que não ouvir, enquanto que o mal da soberba (1 Jo 2.16), da maledicência (Pv 6.16-19; Tg 3-4), da falta de amor (1 Jo 2.9-11) da ignorância (Rm 12.1 Cl 2.20-23; Hb 5.12), da hipocrisia (Mt 15.7-8; Mt 23.29; Mc 11.13-14,20), continua em nós. Continua porque precisamos de Bíblia, não de história do rock! Estamos famintos, Michelson!

 

 

11. "Todos sabem que as melhores bandas são afiliadas de Satanás" (Bart Simpson)

É assim tão importante para um cristão o que um personagem de um desenho animado humorísticotem a dizer sobre o assunto? Parece que a ausência de amparo bíblico é mesmo tão patente que nos força a recorrer a Bart Simpson para nos dizer o que pensar sobre o tema. Particularmente, não o considero uma fonte tão abalizada.

 

Muito menos parece ser verossímil o comentário dele. De onde ele tirou isso? Do próprio imaginário cristão, com certeza. Há bandas de rock muito famosas no meio secular como U2P.O.D. e Sixpence None the Richer que possuem vocalistas declaradamente cristãos e que promovem os conceitos do cristianismo.

 

A tirada de Bart Simpson nada mais é que uma óbvia piada com os cristãos e seu "folclore", e não um comentário abalizado ou mesmo uma confissão oficial do reino das trevas (ainda que fosse, por que deveríamos tão prontamente dar crédito a ela – Jo 8.44)? Usar uma frase de cunho meramente humorístico, de um personagem meramente humorístico, como se ela expressasse alguma verdade, não é um bom argumento, antes, denuncia a falta de bom argumento.

 

 

12. "Não existe coisa alguma absolutamente neutra"

Segundo o Pr. Marcos Faiock Bomfim, por você citado, "o conceito teológico do Grande Conflito nos revela que neste mundo simplesmente não existe coisa alguma absolutamente neutra". Fiquei curiosa sobre a fonte que o pastor usou para chegar a essa conclusão.

 

Isso se comprova biblicamente? Por exemplo, a Bíblia diz que o sábado é santo, e quanto aos outros dias da semana? São profanos? A Bíblia diz que os dízimos e ofertas são santos, e o restante de nossa renda, é profano? E seus desenhos de herois, Michelson, são para adorar a Deus ou ao Diabo?

 

Se a resposta a qualquer uma dessas perguntas for "nem um nem outro", como fica essa história de que "neste mundo simplesmente não existe coisa alguma absolutamente neutra"? A conclusão do pastor que você cita parece muito com o maniqueísmo católico-medieval, para o qual qualquer coisa no mundo só poderia vir de Deus ou do Diabo.

 

Embora seja verdade que "o conceito teológico do Grande Conflito nos revela que neste mundo simplesmente não existe [pessoa] alguma absolutamente neutra" (cf. Js 24.15; Mt 12.30), isso não é verdade para todas as coisas.

 

"Misturar [...] o sagrado com o comum é um grande erro. [...] Há vezes, porém, em que devem ser declaradas coisas comuns, pensamentos comuns precisam ocupar a mente" (ME, vol. 1, p. 38). Como EGW poderia falar de "coisas comuns" se o que não é sagrado é inevitavelmente impróprio para o cristão, já "que neste mundo simplesmente não existe coisa alguma absolutamente neutra"?

 

Assim, tanto do ponto de vista bíblico, quanto do ponto de vista do Espírito de Profecia, quanto do ponto de vista lógico não há qualquer confirmação para tal conclusão do Pr. Bomfim. Impossível esconder minha perplexidade ao ver um pastor dizer algo desse nível, bem como ao ver um jornalista esclarecido e mestre em teologia endossá-lo!

 

 

13. "Música popular com letra sagrada"

Você também citou o Pr. Bonfim quando ele diz: "A confusão acontece quando existe a mistura dos dois elementos – música popular com letra sagrada". Essa mistura existe há décadas em nosso hinário, por exemplo. São 37 hinos cuja melodia é denominada pelo próprio Hinário Adventista como "Melodia Tradicional [insira aqui a nacionalidade]", que também poderia ser escrito: "Melodia Popular...". Em seus respectivos países, são todas canções populares que receberam letra sagrada.

 

Fechar os olhos a isso é aderir a uma cultura arrogante elitista que iguala o popular ao popularesco e vulgar. Tal elitismo não existe apenas entre conservadores, a execração do popular também ocorre entre os jovens "descolados" e é chamada de cultura underground. (Conservadores e liberais são mais parecidos do que se pensa!).

 

Apenas a título de exemplo, é conhecida a história do hino 152, cuja versão original fala do soldado John, cujo "espírito continua marchando", como diz a letra original (alguns já encontrariam aqui ocasião para o banimento da música alegando defesa da imortalidade da alma).

 

Sinceramente, nunca gostei desse hino. Antes de conhecer Jesus, já havia ouvido e cantado muito essa música, em sua versão original, nas aulas de inglês do colégio. A mim, não me remete a nada celeste em virtude dessa experiência do passado. Para mim, essa é apenas a música do soldado John. Além disso, os garotos na classe debochavam cantando em português na hora do refrão: "Glória! Glória! Aleluia!", então, tal música me lembra a jocosidade dos meninos na aula. Agora, imagine se eu quisesse dizer por aí que esse hino não deveria ser cantado na igreja em virtude dessa minha experiência pessoal (vide seção 2)?

 

Além disso, e se adventistas judeus e simpatizantes se unissem contra o hino 557 do nosso hinário, por ser o Hino Nacional da Alemanha nazista e isso – até compreensivelmente – suscitasse-lhes as mais terríveis associações?[24]

 

Você mesmo disse: "Não podemos ignorar o fato de que muitos hinos tidos como 'tradicionais' também têm origem, digamos, duvidosa. Alguns provêm de músicos maçons ou têm que ver com a guerra, o nacionalismo/patriotismo 'rebelde', o pentecostalismo, a valsa e o gospel, e mesmo com canções populares". Perfeito! Mas o que fazemos com essa informação você não disse. Ela não contradiz alguns pontos de sua argumentação? Pergunto, pois realmente não entendi.

 

Tudo depende muito da associação que cada um faz em sua mente. Não há racionalidade em pretender que uma coisa não explicitada por meio de um princípio bíblico produza, em todos, algo que produz em alguns. Apesar de você assumir que alguns não farão a associação ruim que outros poderão fazer, ainda assim você passa isso por alto, como se a má associação feita por alguns devesse ter alguma primazia sobre a associação feita por outros, isso sem nenhum critério.

 

Você disse em outro ponto do artigo: "De minha parte, considerando-se minha formação e preferências musicais anteriores à minha conversão, quando ouço certas músicas ditas sacras, lembro-me do rock que eu 'curtia'. E isso me soa como mistura do sagrado com o profano". Vemos aí, mais da já combatida experiência pessoal como critério (em maior ou menor grau) para outros.

 

Também me chamou a atenção o fato de você mencionar sua formação. Se você estiver se referindo à sua formação acadêmica, só faltou nos dizer como ela lhe fez chegar a tal raciocínio. Pode ter sido falha minha, mas não me lembro de ter visto isso no texto. Sendo assim, por favor, não leve a mal, mas me pareceu uma falácia (inconsciente) de autoridade, na qual você menciona sua formação apenas para conferir credibilidade às suas palavras, porém, não fornece qualquer argumento no âmbito de sua formação que lhe tenha permitido concluir o que concluiu.

 

Você continua citando o Pr. Bomfim, que diz: "O cérebro percebe essa incoerência [da "música popular com letra sagrada"], que pode ser transferida também para a vida espiritual". O pastor também parece cometer uma falácia usando a palavra "cérebro" para conferir uma aura científica onde não há nenhuma. De onde ele tirou isso? Como se não bastasse, ele ainda expande isso à "vida espiritual", sem dizer como chegou a esse desfecho. Um festival de conclusões ex-nihilo.

 

Contudo, como ficamos quanto à questão da mistura entre o sacro e o profano? A Bíblia não proíbe? Usualmente, tenta-se extrair tal argumento de Levítico 10.10, que ordena "fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo". Tal ordenança se deu quando "Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do senhor" (v. 1).

 

A mistura entre santo e profano ocorreu ao utilizarem um fogo que não aquele que Deus especifica e categoricamente designara. Entretanto, como já visto, Deus nunca se preocupou em legislar sobre questões musicais, nem um til ou j; ao contrário do caso de Nadabe e Abiú, no qual houve expressa ordem divina. São coisas que não podem ser comparadas, logo, temos na evocação da história de Nadabe e Abiú para a questão musical a falácia da falsa analogia.

 

Se vamos fazer uma aplicação desse verso, que façamos uma aplicação devida. No caso, poder-se-ia comparar o ato de Nadabe e Abiú com justificação pelas obras: o homem tentando criar suas próprias leis e chegar a Deus por seus próprios meios, rejeitando o meio que Deus designou. Também, tomadas às devidas proporções, o fogo estranho poderia ser aplicado justamente à prática dos que creditam a Deus ordenanças sobre música, ou qualquer outra coisa, que Ele mesmo nunca deu em Sua Palavra. Não somos autorizados a isso.

 

 

14. "Testemunho de Ivor Myers"

Mais experiências pessoais (com certo ar sensacionalista). Nunca li o livro, mas, ao menos no trecho citado, nenhum argumento bíblico ou lógico é fornecido. Mas se vamos falar de testemunhos, há vários testemunhos de rockeiros cristãos. Tem testemunho para todos os gostos.

 

 

15. "Testemunho de Karl Tsatalbasidis"

1) Diferença entre tambores e bateria. Sim, são diferentes. Uma rabeca é diferente de um violino ou de uma viola; um flautim é diferente de uma flauta doce ou de uma flauta transversal. Mas a diferença entre tambores e bateria é colocada como se essa diferença causasse alguma espécie de diversidade moral entre eles. Só não foi explicado como se daria isso.

 

2) "A Bíblia relata que tambores foram usados apenas em ocasiões festivas e não em cultos ou adoração". De onde se tirou que o cântico de Miriam, por exemplo, não era adoração? Como a Bíblia gostaria que entendêssemos que alguém cantando: "Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou..." (Êx 15.21) está fazendo outra coisa que não adorando?

 

Não era adoração porque não se deu dentro de uma construção religiosa? Se, sim, então o que fazer, por exemplo, com At 16.13 ou com os salmos feitos para serem cantados durante peregrinações (obviamente, fora do templo)? Não são adoração? Ademais, a música de Miriam não poderia mesmo ter se dado dentro do tabernáculo, visto que lá não havia sequer música (nem mesmo Tabernáculo, na época!).

 

Não era adoração porque incluiu tamboris? Se, sim, temos aí a falácia de petição de princípio, pois, parte-se já da conclusão: "tamboris não são instrumentos de adoração"; para se chegar à conclusão: "tamboris não são instrumentos de adoração".

 

EGW também discorda de Tsatalbasidis, chamando tais ocasiões de "sublime tributação de louvor", "culto", etc.

 

Semelhante à voz do grande abismo, surgiu das vastas hostes de Israel aquela sublime tributação de louvor. Deram-lhe início as mulheres de Israel, indo à frente Miriã, irmã de Moisés, ao saírem elas com tamboril e danças. Longe, por sobre o deserto e o mar, repercutia o festivo estribilho, e as montanhas ecoavam as palavras de seu louvor - "Cantai ao Senhor, porque sumamente Se exaltou". Este cântico e o grande livramento que ele comemora, produziram uma impressão que nunca se dissiparia da memória do povo hebreu. De século em século era repercutido pelos profetas e cantores de Israel, testificando que Jeová é a força e livramento daqueles que nEle confiam. Aquele cântico não pertence ao povo judeu unicamente. Ele aponta, no futuro, a destruição de todos os adversários da justiça, e a vitória final do Israel de Deus (PP, 288-289).

 

O Espírito de Deus era notadamente manifesto nesses seminários, em profecia e musica sacra. Numa ocasião um grupo de profetas encontrou Saul no "monte de Deus", não longe de Gibeá, com saltérios etamborins, flauta e harpa. Sob a influência do Espírito Santo, esses homens estavam profetizando e louvando a Deus com a musica dos instrumentos e a voz do cântico (Signs of the Times, 22/06/1882).

 

Em Gibeá, sua cidade, um grupo de profetas, voltando do "lugar alto", cantavam o louvor de Deus, com música de flautas e harpas, saltérios e tambores. Aproximando-se Saul deles, sobreveio-lhe o Espírito do Senhor e ele também tomou parte em seu cântico de louvor, e com eles profetizou. Falou com tão grande influência e sabedoria, e com tanto fervor se uniu ao culto (PP, p. 610).

 

 

A conclusão de Tsatalbasidis, portanto, não resiste à Bíblia, à lógica, nem ao Espírito de profecia (na verdade, o contradiz frontalmente), mas parece ajustar-se perfeitamente ao compromisso a priori com a ideia de que instrumento X é nocivo.[25]

 

3) "Eles foram sistematicamente excluídos do Templo". Para uma discussão sobre esse assunto, ver arquivo: resposta_percussão, anexado a este e-mail.

 

 

16) "Bateria: terreno pantanoso"

Ao apresentar argumento contrário ao de Bacchiocchi, você foi mais corajoso do que se costuma ser nessa questão, ainda que muito timidamente.[26] Gostaria de fazer apenas uma rápida observação quanto a isso. Se a bateria não traz problema em si mesma, não é ela que é "terreno pantanoso", é qualquer coisa que traga escândalo aos que Paulo denomina de "fracos na fé".

 

Sobretudo num país de dimensões continentais e multiculturalizado como o Brasil, o escândalo pode ir do usar uma roupa vermelha na plataforma, a seus desenhos de super-herois (por mais bizarro que pareça, sei de casos em que ambos causaram escândalo). De modo que, por mais que tentemos, sempre acabaremos escandalizando alguém.

 

Não que devamos dar de ombros à ordem bíblica de não escandalizar, mas o que chama a atenção é a insistência que temos como igreja em "passar a mão na cabeça" do irmão escandalizável. Paulo chama a esse irmão de "fraco na fé" (Rm 14.1; 1Co 8.7). Mas parece que muitos crentes acham que ser "fraco na fé" é uma virtude.

 

Não que se deva sair escandalizando as pessoas gratuitamente, isso iria contra o que a Bíblia ensina. Acontece que, comumente, somos tão "cheios de dedos" que perpetuamos a fraqueza desses irmãos ad infinitum, sob o pretexto de não escandalizá-los. Isso não é preservar o irmão, mas preservar a ignorância dele. O mesmo Paulo que disse para não escandalizar quanto à questão da carne sacrificada a ídolos (1Co 8.7,9), não temeu instruir dizendo, entre outras coisas, que "não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos se não comermos, e nada ganharemos se comermos" (1Co 8.8; Rm 14.14).

 

Além do mais, o escândalo do qual Paulo fala não tem que ver com birras e mimos, mas com coisas que mexiam no mais íntimo dos novos conversos, coisas graves ao ponto de fazer o irmão fraco apostatar da fé (Rm 15.15; 1Co 8.7,11-12. Note o uso da palavra "perecer").

 

O abuso do "não escandalize" é um dos fatores que contribuem para termos uma igreja cada vez mais mimada e biblicamente analfabeta. A ordem bíblica para não escandalizar não anula a ordem - também bíblica - de, com amor, instruirmos a igreja acerca do que a Bíblia realmente ensina.

 

E, da mesma forma que o uso de bateria traz escândalo a alguns, o não uso também traz a outros. Como escolher qual escandalizado contemplar? Complicado, não é mesmo?

 

Por isso, bato na tecla de que, ao invés de simplistamente sacarmos esse verso paulino a cada polêmica, nossa preocupação deve ser instruir o povo para que ele não viva como "fraco na fé" a vida inteira.

 

Sinceramente, não parece ser essa a preocupação muitas vezes, e sim usar essa passagem bíblica como pretexto para que nossas "vacas sagradas" continuem intocadas, numa forma de idolatria ideológica.

 

 

17) Oferta de Caim

Você escreveu: "Não é meu gosto que deve prevalecer, do contrário, estarei reproduzindo a atitude de Caim". Um equívoco comum é atribuir a oferta de Caim ao gosto pessoal dele, porém, ela foi um ato de deliberada rebelião, que rejeitava a graça divina representada por meio do derramamento do sangue. Nada de inocente gosto pessoal. Deus já havia dado ordens claras.

 

Não há como comparar isso à questão musical, na qual, como já vimos, em muitas questões Deus não se preocupou em deixar um claro "assim diz o Senhor".

 

 

18) Palavras finais

Nada aqui foi escrito contra a sua pessoa, Michelson. Ao contrário. Admiro bastante sua disposição em lutar pela verdade, inspirando centenas de jovens a fazer o mesmo. Eu, inclusive, sou um dos que foram inspirados por você! Alias, meu muito obrigada! Espero que tal disposição se alie cada vez mais ao uso de "argumentos legítimos" e "inteiramente retos" (Ev., p. 166).

 

 

Deus nos ilumine.

Abs.

 

 

 

Vanedja Cândido Barbosa

IASD Central, João Pessoa, Paraíba



[1] Vale salientar que inconformismo não é um mal em si mesmo. A Bíblia nos conclama a ele (Rm 12.2).

 

[2] Na sua época de adolescente, sem dúvida o estilo mais executado no Brasil era o rock, mas essa fase morreu no início dos anos 90. Hoje, veja o que tem "feito a cabeça" da molecada:

>> Ritmo mais popular do Brasil

http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-tipo-de-musica-e-mais-popular-no-brasil

 

>> Ranking do ECAD de músicas mais tocadas por região do Brasilhttp://www.ecad.org.br/viewcontroller/publico/RankingAutoral.aspx

 

>> Pesquisa de opinião sobre preferência musical dos paulistas que ouvem rádio FM

http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2276/parada-sucesso-radios-fm

 

>> Pesquisa científica sobre as características dos ouvintes de cada estilo musical e o preconceito

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-73722006000100022&script=sci_arttext

 

>> Pesquisa de opinião sobre a preferência musical dos capixabas

http://futuranet.ws/wp-content/uploads/2012/08/R_AGazeta_Site_201207_EstilosMusicais_V00.pdf

 

>> Pesquisa de opinião sobre preferências da Classe C brasileira

http://www4.ibope.com.br/maximidia2010/download/classe_c.pdf

 

>> Pesquisa acadêmica sobre as preferências musicais de alunos do Ensino Médiohttp://www.revistas.ufg.br/index.php/musica/article/view/12829/8425

 

[3] Reconheço que este não é um argumento central em seu texto e você poderia alegar que esse não é o único argumento para embasar seu ponto de vista, contudo, várias falácias não são capazes de constituir um argumento legítimo. O argumento é falacioso em si mesmo, portanto, inválido, ainda que somado a dezenas de outros.

 

[4] A Bíblia deve ser a "base de todas as reformas", e não possessões demoníacas, história do rock e de seus expoentes, nem nada disso que vemos por aí causando falsos reavivamentos. Falsos, porque não se originam na Palavra.

 

[5] Embora textos bíblicos quanto a isso já tenham sido citados na seção 1, cito aqui textos de EGW em virtude do costume incorreto, antibíblico, antiadventista e antiellewhite, que muitos tem de recorrer a ela antes mesmo da Bíblia, então, já que alguns querem tanto obedecê-la (de maneira errônea), obedeçam-na também quanto ao que ela diz acerca da autoridade da Bíblia e de onde extrair base para os pontos de vista de todo professo cristão.

 

[6] Trombetas já não foram feitas para emitir som suave, que se dirá então de um "forte clangor" delas? Ainda que tal passagem seja simbólica, não podemos concluir que o único tipo de música divinamente aprovada seja a música suave, sob pena de acusar Deus de fazer simbologia positiva com algo que Ele mesmo supostamente condena.

 

[7] REID (org.). Compreendendo as Escrituras: uma abordagem adventista. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2007, p. 165.

 

[8] STOTT. Batismo e Plenitude do Espírito Santo: o mover sobrenatural de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 19.

 

[9] É comum que estilos execrados em uma época passem a ser o padrão de sacralidade em outra. É o caso do babershop, a música das barbearias norteamericanas das décadas de 1940 e 1950. No início do quarteto King's Heralds, seus componentes foram criticados por adotar tal estilo. Hoje, o mesmo estilo é tido como parâmetro de boa música sacra. Sobre a mudança de pensamento acerca do que vem a ser música sacra, veja o texto de Joezer Mendonça, Música sacra através dos tempos.

 

[10] DOUGLASS. Mensageira do Senhor: O ministério profético de Ellen G. White. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2003, pp. 94-95.

 

[11] "Isso vi eu repetidamente pelas fileiras dos observadores do sábado, e especialmente em ______. A música tem ocupado as horas que deviam ser devotadas à oração. [...] Quando se lhe permite tomar o lugar da devoção e da prece, é uma terrível maldição".

 

[12] Considero esse um tema tão importante que, ano passado, foi tema de estudo por algumas semanas em meu PG. Anexei a este e-mail uma das lições que estudamos na ocasião, caso lhe interesse. Usei muitas citações de EGW, creio que será bom dar uma olhada, pois talvez ajude a esclarecer o entendimento dela sobre o assunto.

 

[14] Anexei a este e-mail uma lição (teologia do medo2ms) que estudamos durante algumas semanas em nosso PG. Creio que será útil nessa questão.

 

[15] Raul Seixas, por exemplo, sem dúvida o fez, com suas letras que falavam abertamente da Sociedade Novo Aeon e outras ideologias semelhantes.

 

[16] EGW dava muita ênfase ao desenvolvimento do bom senso, no pensar racional e individual: "Deus quer que todos nós tenhamos bom senso, e deseja que raciocinemos movidos pelo bom senso" (ME. vol. 3, p. 216-217). "Usemos nosso raciocínio" (The Kress Colection, p. 144). "Cada ser humano criado à imagem de Deus, é dotado de certa faculdade própria do Criador - a individualidade - faculdade esta de pensar e agir. [...] É a obra da verdadeira educação desenvolver essa faculdade, preparar os jovens para que sejam pensantes e não meros refletores do pensamento de outrem"  (Educação, p. 17).

 

[17] A maldade de um "Atirei o pau no gato" jamais seria perdoada se essa letra houvesse sido consagrada em ritmo de rock. Rapidamente, viriam as pesquisas (nesse caso, legítimas) apontando que o mau trato a animais na infância é um dos traços da psicopatia. Há ainda a idolatria que é o Hino Nacional Brasileiro ("Oh, pátria amada, idolatrada", "terra adorada"). Por muito menos (mas muito menos, mesmo) um letra de rock já seria execrada (vide início do seu artigo).

 

 

[18] Divisão de tempo arbitrária, baseada apenas no misticismo babilônico em torno do número 60.

 

[19] Prática pagã, não usada em cultos em si, mas obscena. Ao verem uma mulher bonita, os soldados romanos demonstravam sua aprovação levantando o polegar, representando seu órgão genital ereto.

 

[20] Outra divisão de tempo arbitrária baseada em convenção pagã. Dezembro não possui qualquer relevância astronômica que justifique o fim do ciclo anual nesse mês. Muito mais sentido faria iniciar o ano no equinócio de setembro, por exemplo, como até hoje fazem os judeus.

 

[21] Gesto nunca utilizado na Bíblia e que, na verdade, é o namaskara-mudra: gesto místico budista. Contudo, não vemos problema em assim orar e ensinar criancinhas, até com música de Escola Sabatina, a fazê-lo.

 

[22] Nem precisamos discorrer quanto à origem pagã disso, nem mesmo dizer que, apesar de sua origem pagã, são coisas completamente endossadas por Ellen White e toda a liderança da IASD.

 

[23] Fortemente associadas ao paganismo celta. Além do mais, seu pai é um pagão descendente de Caim (Gn 4.21).

 

[24] Interessante texto sobre a relação (nem sempre harmoniosa) entre essa composição de Haydn e algumas comunidades cristãs http://migre.me/afFqb

 

[25] Muitos usam o argumento: "Não sou contra isso porque me convém, ao contrário, fui rockeiro. Seria mais conveniente a mim ser a favor. Não estou falando contra algo que eu não goste, mas tenho de falar contra pela força dos argumentos". O fato de ele ser ex-baterista não anula tal compromisso. Muitos (eu, inclusive), após sua conversão, veem-se diante da incumbência de abandonar certos paradigmas a fim de fazer parte de um grupo que ensina tantas verdades extraordinárias e que passou a dar sentido a sua vida. A vontade de fazer parte de algo assim é tão grande que acaba anuviando temporariamente a razão em alguns pontos. Assim, passam a crer mais por rendição emocional do que por convicção racional. Não estou querendo com a minha experiência e de tantos outros provar que foi isso o que houve com Tsatalbasidis. Quero apenas mostrar que o fato de ele ser ex-baterista não significa necessariamente que isso o exime de possuir um compromisso a priori com tal ideologia.

 

[26] Você disse: "Então o silêncio sobre um tópico quer dizer a confirmação de uma hipótese? Talvez não". Talvez não? Não sei se foi educação sua, mas isso é sem dúvida muito leve para um erro tão grave. Basear ideias no silêncio das Escrituras é um erro hermenêutico crasso, que combatemos veementemente quando alguém o utiliza para falar contra o sábado, por exemplo, mas que parece que fazemos vista grossa quando serve para fundamentar certas ideias que acalentamos.